domingo, 26 de setembro de 2010

Favor de político



Dona Cláudia acordou alvoroçada. Hoje era o último dia para retirar a segunda via do seu título de eleitor que havia perdido há uns três ou sete meses – tinha a lembrança “meia” fraca, como ela mesma costumava dizer – não se lembra nem ao certo como foi que perdeu, muito menos onde foi parar o tal do documento.

Fez o café do marido que saiu para trabalhar e colocou-se a gritar pelo nome dos três meninos frutos do seu casamento anterior: Antônio Carlos! Carlos Antônio! Antônio! Você deve estar pensando que o nome do pai dessas três crianças por sorte deveria ser Antônio. Muito bem, de certo que o leitor acertou. O sobrenome da família pouco importa, num país como o Brasil só gente importante é conhecida por sobrenome, e essa não é uma família de músicos, artistas, políticos, nem de médico formado com diploma.

Pegou o rumo, o que inclui 25 minutos na parada de ônibus e mais 50 para chegar ao cartório eleitoral. Agora sim, pensou ela. Estava no lugar certo. Dera uma viagem no dia anterior em vão, já que no cartório próximo a sua casa não estavam tirando segunda via, apenas fazendo reimpressão de título.

A fila era enorme, mas para quem já está acostumada a esperar na fila do posto de saúde para consultar o caçula com o pediatra; na do sopão em frente ao centro espírita que toda sexta-feira tem distribuição de janta; e para receber os medicamentos da mãe que tem diabetes – isso quando há os remédios - é besteira.

Tratou de fazer amizade com os que também aguardavam chegar sua vez. Em fila é sempre assim, todo mundo acaba se conhecendo, sabe como é... espaço é pouco, a gente é muita, é impossível não pisar no pé de ninguém sem querer, pedir desculpas e dali sair o maior papo – sempre se acha um conhecido em comum.

Eis que chega a vez de Dona Claúdia que fica angustiada ao perceber que não trouxera comprovante algum de que votara na eleição passada. Sem esse comprovante não é possível tirar sua segunda via, foi mais ou menos o que disse a mulher que a atendeu, só que através de grunhidos que mal dava para entender o que falava.
O que seria de Dona Cláudia não fosse o candidato a deputado que se disponibilizou prontamente a buscar o comprovante da senhora na casa dela? Só assim conseguiu sua segunda via do documento. Aliviada, viu o homem estender-lhe a mão, achou que seria um cumprimento, quando notou um papel pequeno que ele segurava. Entregou-lhe. Agora já tinha em quem votar no dia 3 de Outubro para deputado estadual.

Por: Arthur Rocha.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Enquanto isso, no restaurante...

Estômago: - Cara, manera aê com o que vai comer. Essa semana foi foda. Manda uns vegetais pra dentro, porque as coisas no intestino estão feias.

PRIMEIRO PRATO (800G): ARROZ, FEIJOADA, CUPIM, PICANHA, CORAÇÃO DE GALINHA E TOMATE.

Estômago: - Tá de sacanagem, né? Duas rodelas de tomate? E essas carnes mal-passadas? Pelo menos mastiga direito essa porra.

SEGUNDO PRATO (550G): ARROZ, COSTELA, PICANHA, ALCATRA E SALADA DE MAIONESE.

Estômago: - Chega de carne, cara, não cabe mais nada aqui. Lembra daquela úlcera? Tá faltando pouco pra cicatriz abrir. Tu quer fuder com tudo, né ? Manda um pouco de água.

BEBIDA 1: COCA-COLA 600ML

Estômago: - Seu imbecil, eu falei um pouco de água.

Eu: - Ué, Coca-Cola tem água. E ainda ajuda a dissolver a carne.

Estômago: - Coca-cola tem o inferno dentro, porra. Tá fudendo aqui com o suco-gástrico.

Esposa: - Amor, com quem você tá falando?

Eu: - Nada, não, tô pensando alto.

SOBREMESA: 300 gr DE PUDIM.

Estômago: - Eita porra, cabe mais não. Tá ouvindo?

Intestino: - O que tá acontecendo aí em cima? Que zona é essa?

Estômago: - O cara tá empurrando comida. Agora veio pudim pra dentro. Não sei mais o que fazer.

Intestino: - Vamos mandar direto.

Estômago: - O quê?

Intestino: - É isso aí, operação descarga.

Estômago: - Cara, o cérebro não vai gostar.

Intestino: - Foda-se o cérebro, ele nunca veio aqui em baixo pra saber como são as coisas.

Estômago: - Vamos dar mais uma chance pra ele. Eu acho que ele não vai mais…

BEBIDA 2: CAFEZINHO.

Estômago: - Filho de uma puta. Vou explodir.

Intestino: - Operação descarga iniciando. Anda, libera o canal do duodeno que eu já tô conversando com o esfíncter.

Coração: - Que que tá havendo aí embaixo? A adrenalina tá aumentando muito.
Intestino: - Operação descarga.

Coração: - Quem autorizou isso? O cérebro não me mandou nada.

Estômago: - Foda-se aquela geléia! Nem músculo tem.

Intestino: - É isso aê, foda-se essa geléia inútil. Vinte segundos pra abrir o esfíncter anal. Quero ver o ânus arder com esse suco gástrico.

Esposa: - Amor, você tá passando bem? Tá suando todo, aonde você vai?

Eu: - Preciso ir ao banheiro, urgente. Paga a conta e me espera no carro.

Esposa: - O que você comeu?

Eu: - Não sei. Acho que foi o tomate

terça-feira, 7 de setembro de 2010

#RT

Login, senha. Pronto. Já estava conectado aos mais de 500 followers no twitter. O dia parecia tão tedioso que nada lhe chamava atenção. Ainda ressentido pelo fim de seu último relacionamento, o internauta já havia decidido partir para outra. Mas, cadê a outra?

Foi então que @carolms sua amiga do curso de inglês deu RT no tweet de alguém que lhe chamou atenção. A foto era bonita, resolveu segui-la. E não deu outra, foi seguido de volta. Meio receoso de início, mas resolveu twittar com a nova follower. Depois de alguns twitts, já estavam mandando MSN e link do orkut por DM.

Pode parecer brincadeira, mas tudo isso ocorreu em velocidade de Internet nesse mundo überglobalizado. 1GB/s mantinha os dois estranhos interligados pelas redes sociais. Emoticons e winks descontraiam o papo, e os dois não paravam de trocar ideias. Já estavam compartilhando pastas com músicas e fotos compactadas para economizar KBs.

O internauta já nem lembrava mais do seu relacionamento virtual passado. Amor de 11 dias e 512Mb da memória RAM. Até durou muito, é o que dizem a maioria que convergem na ideia de que amor de Internet foi criado para não durar.

“te amo”, escreveu o internauta. Como é possível amar alguém que se conheceu há 8 horas?! Fizeram vídeo conferência e já podiam ver em tempo real um ao outro pela webcam. O que mais poderiam querer num relacionamento maduro, adulto, estável e sério de 8h?

Subnick no MSN e status do orkut com declarações de amor. Ele fazia o tipo romântico. Ela se divertia mandando beijinhos e abraços entre os avatares deles no buddy poke. Ambos mudaram relacionamento para “namorando” no perfil do Orkut. Até lastFM o internauta criou depois que sua parceira o convidou para participar de mais esta rede social da World Wide Web. Agora eles ouviam juntos a música tema do amor deles.

Passaram o resto do dia em love. Mesmo de madrugada, o amor não os deixava ficar offline ou sequer desligar o PC. Foram 18 horas de amor através da tela de LCD preta 17’’. Será que havia encontrado o amor da sua vida? Será que superaria os 11 dias de seu namoro mais duradouro? Perguntas como essa embalavam o nervosismo que o fazia ficar de pernas bambas ao teclar com a namorada.

Lá pelas tantas, a internauta fica off e não respondia aos chamados do amado. O que poderia ter acontecido? O internauta não parava de twittar a saudade que sentia e que estava desesperado. Nem lhe passava pela cabeça que a Internet da namorada havia caído e o servidor estava fora do ar.

Nem chegaram a comemorar o primeiro dia de namoro juntos, porque a internauta amada se desconectara da rede faltando duas horas para completar um dia inteiro de romance. Sem falar nos 23% restantes do download do vídeo da internauta com suas duas amigas dançando uma versão bizarra de “Single Ladies” que o tristonho internauta jamais assistiria por completo.

Ficou depressivo por cerca de 15 minutos quando, decidido, resolveu virar a página: criou um fake e foi beber todas numa boate virtual fake, com novos amigos fakes, música fake, comida fake. Quem sabe não encontraria uma fake estilosa dando mole por lá?

Por: Arthur Rocha
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...