Ana, muito bem disposta, acordou cedo nesse sábado quente e ensolarado de Janeiro, o que não é de se espantar para alguém que mora nos trópicos. Agora, sentada e sentindo a suave brisa, passavam por sua cabeça as lembranças da época em que vinha com o pai para aquela mesma praia. Chegavam a passar o dia inteiro debaixo daquele sol, fazendo castelos de areia.
Respingos da água salgada atingiam seu rosto e rapidamente secavam com o vento que soprava agora mais intensamente sobre sua pele recoberta por filtro solar que, desde a infância, seu pai tanto insistia para que a filha jamais deixasse de usar. Imaginou o que ele não diria se visse seu anjinho – era assim como ele costumava chamá-la - com a clara pele desprotegida sob os intensos raios daquele astro, ainda mais nesses tempos de aquecimento global.
Esticou o braço e com uma das mãos passou a modelar o monte de areia em sua frente. As ondas, já mais fracas, chegavam até os seus pés. Ana sorria e continuava a elevar as mais lindas torres do seu castelo. Ficaria conhecida entre a realeza como a princesa do castelo mais bonito e que ela mesma o havia construído. Uma ponte interligava as alas leste e oeste. Foi então que subitamente uma onda mais forte invadiu o castelo. A princesa Ana ficou atônita, não sabendo como reagir frente tal situação. Seu reino inteiro estava sendo invadido por uma tsunami e os seus soldados de elmos dourados pareciam nada diante do desastre natural.
Indignada, percebeu que não adiantava construir seu palácio sem antes observar as condições do terreno. Afastou-se uns 2 metros para longe da água e tornou a construir a base do que seria seu novo reino. Muitos súditos chegavam para auxiliá-la, afinal, Ana sempre fora uma boa princesa. Novos soldados participavam dos treinamentos nos desertos de areia fina que circundavam o império, precisavam estar mais bem preparados para os muitos perigos que pudessem surgir e ameaçar a integridade da realeza e dos súditos. Dessa vez, aprendendo com a experiência anterior, Ana deixou as bases do castelo bem firmes e só então elevou as quatro torres principais. A construção já ganhava forma e Ana caprichava em cada contorno. Foi então que uma chuva repentina encharcou os salões de seu castelo ainda nem terminado. Agora já mais preparada, levantou-se e arrastou para mais perto de sua construção algumas palhas de coqueiro caídas, recobrindo-a. Pôde, assim, amenizar os estragos que a grande tempestade poderia lhe ter causado.