Dona Cláudia acordou alvoroçada. Hoje era o último dia para retirar a segunda via do seu título de eleitor que havia perdido há uns três ou sete meses – tinha a lembrança “meia” fraca, como ela mesma costumava dizer – não se lembra nem ao certo como foi que perdeu, muito menos onde foi parar o tal do documento.
Fez o café do marido que saiu para trabalhar e colocou-se a gritar pelo nome dos três meninos frutos do seu casamento anterior: Antônio Carlos! Carlos Antônio! Antônio! Você deve estar pensando que o nome do pai dessas três crianças por sorte deveria ser Antônio. Muito bem, de certo que o leitor acertou. O sobrenome da família pouco importa, num país como o Brasil só gente importante é conhecida por sobrenome, e essa não é uma família de músicos, artistas, políticos, nem de médico formado com diploma.
Pegou o rumo, o que inclui 25 minutos na parada de ônibus e mais 50 para chegar ao cartório eleitoral. Agora sim, pensou ela. Estava no lugar certo. Dera uma viagem no dia anterior em vão, já que no cartório próximo a sua casa não estavam tirando segunda via, apenas fazendo reimpressão de título.
A fila era enorme, mas para quem já está acostumada a esperar na fila do posto de saúde para consultar o caçula com o pediatra; na do sopão em frente ao centro espírita que toda sexta-feira tem distribuição de janta; e para receber os medicamentos da mãe que tem diabetes – isso quando há os remédios - é besteira.
Tratou de fazer amizade com os que também aguardavam chegar sua vez. Em fila é sempre assim, todo mundo acaba se conhecendo, sabe como é... espaço é pouco, a gente é muita, é impossível não pisar no pé de ninguém sem querer, pedir desculpas e dali sair o maior papo – sempre se acha um conhecido em comum.
Eis que chega a vez de Dona Claúdia que fica angustiada ao perceber que não trouxera comprovante algum de que votara na eleição passada. Sem esse comprovante não é possível tirar sua segunda via, foi mais ou menos o que disse a mulher que a atendeu, só que através de grunhidos que mal dava para entender o que falava.
O que seria de Dona Cláudia não fosse o candidato a deputado que se disponibilizou prontamente a buscar o comprovante da senhora na casa dela? Só assim conseguiu sua segunda via do documento. Aliviada, viu o homem estender-lhe a mão, achou que seria um cumprimento, quando notou um papel pequeno que ele segurava. Entregou-lhe. Agora já tinha em quem votar no dia 3 de Outubro para deputado estadual.
Por: Arthur Rocha.