
Fez o café do marido que saiu para trabalhar e colocou-se a gritar pelo nome dos três meninos frutos do seu casamento anterior: Antônio Carlos! Carlos Antônio! Antônio! Você deve estar pensando que o nome do pai dessas três crianças por sorte deveria ser Antônio. Muito bem, de certo que o leitor acertou. O sobrenome da família pouco importa, num país como o Brasil só gente importante é conhecida por sobrenome, e essa não é uma família de músicos, artistas, políticos, nem de médico formado com diploma.
Pegou o rumo, o que inclui 25 minutos na parada de ônibus e mais 50 para chegar ao cartório eleitoral. Agora sim, pensou ela. Estava no lugar certo. Dera uma viagem no dia anterior em vão, já que no cartório próximo a sua casa não estavam tirando segunda via, apenas fazendo reimpressão de título.

Tratou de fazer amizade com os que também aguardavam chegar sua vez. Em fila é sempre assim, todo mundo acaba se conhecendo, sabe como é... espaço é pouco, a gente é muita, é impossível não pisar no pé de ninguém sem querer, pedir desculpas e dali sair o maior papo – sempre se acha um conhecido em comum.
Eis que chega a vez de Dona Claúdia que fica angustiada ao perceber que não trouxera comprovante algum de que votara na eleição passada. Sem esse comprovante não é possível tirar sua segunda via, foi mais ou menos o que disse a mulher que a atendeu, só que através de grunhidos que mal dava para entender o que falava.

Por: Arthur Rocha.