sábado, 16 de maio de 2009

O que seria do amarelo se todos gostassem de azul?

Completa escuridão. As blusas amarelas se entreolhavam dentro do obscuro guarda-roupa de Mariana, tentando fitar, através da minúscula fissura entre a porta e as dobradiças, o que ocorria na porção exterior do armário. A penumbra embaçava a visão daquelas que, curiosamente, se esticavam para mais próximo da fenda, se enroscando umas nas outras e, em tentativas frustradas, acabavam por se amarrotar.
No quarto, Mariana abria o embrulho recentemente ganhado da madrinha. Nossa! Era completamente diferente daquilo o qual usava. A garota, por tanto gostar de amarelo, comprava tudo o quanto fosse possível dessa mesma cor. Todas as suas peças de vestuário eram nas mais discrepantes tonalidades de amarelo. Talvez por seus cabelos serem louros, ou por gostar tanto Sol. O fato é que se desconhece como a jovial Mariana viera a gostar tanto do tal amarelo.
Em abrir duas das três portas do guarda-roupa, a doce menina, de descompassados olhos castanhos, encontra suas blusas na maior confusão. Numa analogia, lembravam os guardanapos dos finos restaurantes aos quais o pai a levava nos finais de semana cuja justiça havia lhe concedido, dobrados de formas tão inusitadas que dava até pena desmanchá-los. Contudo, quem as havia posto daquela maneira? Pendurou o mais novo presente em um dos cabides desocupados e reorganizou, pacientemente (como de costume), as demais peças.
Foi dormir.
Durante a noite, enquanto azul sonhava, as outras colegas de armário cochichavam entre si, murmurando não ter, a nova moradora, qualquer chance de ser retirada do guarda-roupa, afinal, Mariana somente vestia amarelo.
De manhã cedo, Mariana desce para o café, escolhendo, posteriormente ao banho, a tão comentada blusa azul ganhada de presente. Fez tanto sucesso com ela, entre os familiares e amigos, que passou a sempre utilizá-la.
As demais blusas sempre ficavam tristes por não serem mais escolhidas por Mariana. Em contrapartida, a blusa azul, esta se vangloriava e adorava se mostrar melhor que as outras roupas, por ser selecionada continuamente.
Certo dia, as amigas de Mariana vieram pedir-lhe emprestada a tão magnífica blusa azul. Ela não a quis emprestar. Brigaram. Desse conflito não só saíram lágrimas, tapas e puxões de cabelo, como também uma peça de roupa completamente rasgada, suja e descosida. Saiam! A garotinha ficou sozinha. Passava, delicadamente, a mão sobre o tecido fino e azulado. No interior do armário, as amarelas vibravam com a queda do monopólio azulense, até então aparentemente impermeável.
Mariana! A mãe a chama. É hora de se arrumar para o aniversário da madrinha. A garota olha pro guarda-roupas já aberto e não vê mais graça nas suas antigas vestimentas. Pensa como gostaria de estar com sua blusa azul de golinha alta na festa da madrinha Carmem. Será que ela se decepcionaria em saber que Mariana não cuidou bem do presente? A mãe lhe veio apressar e lhe pôs a roupa. O vestidinho amarelo de babados lhe caiu perfeitamente.
Chegou tímida e acanhada. Carmem logo veio abraçar sua única afilhada. Madrinha, não estou usando seu presente, ele rasgou. Não havia problema, a madrinha, mulher adulta e responsável, chegou à Mariana com toda candura que já lhe era de costume. Meu anjo (parecia um anjinho com aqueles cabelinhos loiros cacheados) o que seria do amarelo se todos gostassem de azul? Coçou a cabeça como quem não havia entendido. A beleza das coisas está na diversidade com que elas se mostram. O presente que lhe dei foi para mostrar a você que novidades nem sempre devem ser mal vistas e que se existe amarelo e azul, verde e roxo, claro e escuro, papai e mamãe, dia e noite é porque cada uma dessas coisas tem sua importância. Amanhã iremos ao shopping e quero ver você escolhendo novas roupas. Bem colorias, madrinha? Do tanto que você desejar.
Abraçaram-se.
Por: Arthur Rocha.

11 comentários:

  1. Arthur, que estária linda. Adorei! Mto bem escrita. Continue assim. ;D

    Pois é... Assim como na sua estória são todas as coisas na vida. Afinal, o que seria das fazendas se todos preferissem as praias; ou o que seria dos nerds se todos preferissem os surfistinhas sarados... Rsrsrsrsrrs... ^^

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  2. Obrigado, continuarei sim. Espero que vc esteja sempre por aqui acompanhando meus posts ;D

    Pois é, silvia... pra vc ver como sao as coisas. O que seria dos nerds sem as maria nerds pra babarem por eles, ne?! ;P shuahsuha

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  3. Kkkkkkkkkkk... Pois não é! Até parece um ciclo vicioso que uma coisa vai puxando a outra. xD

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Eu sou a garota que gosta de verde, mas aprendi a gostar de azul, vermelho e cinza!Adorei a história Arthur! =D

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  6. Obrigado. Na vida, agente tem que aprender a usar outras cores. Ela acaba exigindo isso da gente mas cedo ou mais tarde (y).

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  7. Eu sou um arco iris ihuuu
    adorei a historia :**

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  8. booa Tutuca xD

    ps: isso virou quase um chat o.o'

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  9. Obrigado, carolzinha. Que bom que voce gostou emilly ;D shuhshuahsh ta quase um chat mesmo ;P

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  10. Lembrei-me de uma música que diz: "Se as cores se misturam pelos campos, é que flores diferentes vivem juntas". Adorei a história.

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  11. Este texto parece aquelas historias que passam um lição de vida que é tudo feita pelo mesmo cara um tal de autor desconhecido, só que nessa o autor é conhecido e posssivelmente ouviremos e leremos muitos dos trabalhos dele.

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