domingo, 31 de maio de 2009

Castelos de areia

Ana, muito bem disposta, acordou cedo nesse sábado quente e ensolarado de Janeiro, o que não é de se espantar para alguém que mora nos trópicos. Agora, sentada e sentindo a suave brisa, passavam por sua cabeça as lembranças da época em que vinha com o pai para aquela mesma praia. Chegavam a passar o dia inteiro debaixo daquele sol, fazendo castelos de areia.

Respingos da água salgada atingiam seu rosto e rapidamente secavam com o vento que soprava agora mais intensamente sobre sua pele recoberta por filtro solar que, desde a infância, seu pai tanto insistia para que a filha jamais deixasse de usar. Imaginou o que ele não diria se visse seu anjinho – era assim como ele costumava chamá-la - com a clara pele desprotegida sob os intensos raios daquele astro, ainda mais nesses tempos de aquecimento global.

Esticou o braço e com uma das mãos passou a modelar o monte de areia em sua frente. As ondas, já mais fracas, chegavam até os seus pés. Ana sorria e continuava a elevar as mais lindas torres do seu castelo. Ficaria conhecida entre a realeza como a princesa do castelo mais bonito e que ela mesma o havia construído. Uma ponte interligava as alas leste e oeste. Foi então que subitamente uma onda mais forte invadiu o castelo. A princesa Ana ficou atônita, não sabendo como reagir frente tal situação. Seu reino inteiro estava sendo invadido por uma tsunami e os seus soldados de elmos dourados pareciam nada diante do desastre natural.

Indignada, percebeu que não adiantava construir seu palácio sem antes observar as condições do terreno. Afastou-se uns 2 metros para longe da água e tornou a construir a base do que seria seu novo reino. Muitos súditos chegavam para auxiliá-la, afinal, Ana sempre fora uma boa princesa. Novos soldados participavam dos treinamentos nos desertos de areia fina que circundavam o império, precisavam estar mais bem preparados para os muitos perigos que pudessem surgir e ameaçar a integridade da realeza e dos súditos. Dessa vez, aprendendo com a experiência anterior, Ana deixou as bases do castelo bem firmes e só então elevou as quatro torres principais. A construção já ganhava forma e Ana caprichava em cada contorno. Foi então que uma chuva repentina encharcou os salões de seu castelo ainda nem terminado. Agora já mais preparada, levantou-se e arrastou para mais perto de sua construção algumas palhas de coqueiro caídas, recobrindo-a. Pôde, assim, amenizar os estragos que a grande tempestade poderia lhe ter causado.

Algum tempo depois, com o sol já brilhante novamente. Descobriu o palácio e reparou os pequenos estragos. Quando repôs a última plantinha no jardim real, Ana teve uma sensação de alívio que pouco durou. Garotos jogavam bola alguns metros dali e um deles acabou por acertar uma das torres, desmoronando-a. Ana, tomando uma postura de princesa devolveu-lhe a bola e aceitou as desculpas com sutil sorriso. Os garotos voltaram a jogar e a princesa remexia os destroços de parte de seu palacete. Foi então que descobriu entre os grãos de areia algo metálico. Tratava-se de uma medalhinha com o desenho de um anjinho gravado na superfície de metal. Lembrou-se do pai. Lembrou-se de quando ele a chamava de meu anjinho. Lembrou-se de quando riam enquanto construíam castelos de areia naquela praia. Foi então que levantou, afinal, já entardecera e estava na hora de voltar para casa. Ana passou pelos garotos e disse um muito obrigado tão sorridente que todos olhavam pra ela com um brilho especial nos olhos. Foi distribuindo gentilezas por todos que encontrava no caminho entre a praia e seu apartamento.

Sobre a cama, Ana refletiu o quanto é importante aprender com tudo que passamos; tirar bom proveito até das situações mais complicadas; construir nossas bases em terrenos sólidos; aprender que nada que nos acontece é por acaso; que mesmo quando as pessoas tenham, aparentemente ou não, lhe feito mal não vale a pena retribuir tal atitude; que um sorriso faz toda a diferença; que não custa nada sermos gentis com o próximo; que sonhar não é coisa de gente boba; que preservar a imaginação de criança mesmo não sendo mais uma é um privilégio de poucos; e que todo obstáculo que nos apareça é pequeno diante do tesouro que encontraremos no fim de tudo. Vale a pena construirmos nossos castelos de areia.

Por: Arthur Rocha.

4 comentários:

  1. que lindo *.*
    sério, tô toda trabalhada na emoção. ahahah

    ResponderExcluir
  2. Kkkkkkk Ana Carol ta toda trabalhada nas emoções!Hauahuah!Mais um texto lindo Tutu, adorei =)

    ResponderExcluir
  3. Aiiin Arthur, que texto lindo. Tocante mesmo e muito "cute"! ^^
    Contnie escrevendo assim. ;*

    Silvia Correia

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...