quarta-feira, 3 de junho de 2009

Desenvolvendo tecnologias e problemáticas - Filme Tempos Modernos.

Os avanços na tecnologia e no campo científico trouxeram, sem dúvida, muitos benefícios à vida diária humana, todavia, como explicitado de maneira grandiosa e bem humorada por Charles Chaplin na obra cinematográfica “Tempos Modernos”, tanto desenvolvimento tecnológico acabou também desenvolvendo sérias conseqüências para a sociedade.
Uma dessas é a exploração do trabalho humano nas indústrias, obrigando os trabalhadores a abandonarem a produção artesanal – típica do período que precedeu a Revolução Industrial – e ingressarem num trabalho repetitivo e especializado, dominando apenas parte da produção e perdendo o conhecimento sobre as demais. Situação vivenciada por Carlitos (personagem de Chaplin em “Tempos modernos”), que perde seu emprego na fábrica onde apertava parafusos e onde fora sempre induzido a desempenhar seu trabalho sem contestar ou ter consciência do que fazia, passando, em seguida, a trabalhar num novo emprego: na construção de um navio. Lá, o ex-operário – tão habituado as suas tarefas repetitivas na indústria – não conseguia desenvolver uma atividade simples quanto achar um pedaço de madeira específico, coisa que lhe exigia capacidade de raciocínio maior que a qual estava acostumado.

Associada a exploração do operário temos a falta de direitos trabalhistas, que não impediam os chefes e donos de fábricas de obrigarem seus empregados a cansativas 12 e até 14 horas de serviço, muitas das vezes sem pausa para almoço – como é visto em “tempos modernos” a construção de uma máquina que poupa o trabalhador do intervalo para almoço, fazendo-o produzir mais e ampliar, assim, a rentabilidade e lucratividade da empresa.


Outra conseqüência é o acirramento das desigualdades sociais – fator já existente desde as antigas civilizações, quando passou a haver, dentro de uma mesma aldeia, diferenciação do trabalho executado por indivíduos distintos. As classes baixas continuam na luta por um emprego nas grandes indústrias e propriedades das classes altas que, por sua vez, enriquecem ainda mais com a exploração do trabalho operário. Vemos, no filme, tal fato quando Carlito está sentado ao lado de uma senhora rica e bem aparentada e os dois tomam do mesmo café que acaba por fazer mal, conseqüentemente, a ambos. A mulher toma um medicamento para aliviar a sensação, todavia Carlito se vê sem esse recurso, uma vez que se trata de um privilégio das altas classes e não da massa operária.

Tem-se também a questão do consumismo, tão difundido com a expansão do capitalismo logo após a Revolução Industrial. As máquinas estavam a todo vapor e para tantos produtos sendo fabricados é necessária uma política consumista ser disseminada entre a população, deixando-a apta a consumir tanto quanto for necessário para esvaziar as prateleiras e mais produtos serem confeccionados, assim, aumentam-se os negócios e ampliam-se os lucros – palavra tão apreciada no sistema econômico capitalista.
Observa-se isso quando Carlito e sua companheira passam uma noite numa loja de departamentos, usufruindo toda a mercadoria que talvez, nem em cem anos de trabalho, teria condições de obter. A moça se enaltece pelos casacos de pele, brinquedos e artigos de luxo que pode desfrutar na loja que Carlito trabalhava como vigia noturno.

Há, ainda, a repressão aos trabalhadores que não podem reivindicar seus direitos, sendo acusados de comunistas por parte das autoridades policiais; as classes baixas sendo obrigadas a se satisfazerem com o mínimo de recursos para sua sobrevivência; a falta de infra-estrutura das cidades que não conseguem comportar tanta gente vinda do campo com a utopia de progredir no desenvolvimento da cidade grande, o que acaba por gerar indivíduos como Carlito e a moça, pobres, desempregados, sem moradia ou residindo em barracos e roubando comida para se sustentarem.

Os tempos modernos não só desenvolveram o progresso científico-tecnológico-informacional, como também desenvolveram uma série de deficiências sociais. A facilidade e os benefícios trazidos com a modernidade se diluem na desigualdade, na criminalidade, na perda de valores, no descaso com os recursos naturais, na favelização, na falta de infra-estrutura urbana, no inchaço das metrópoles e no aumento da violência. Assim como metaforizado em “Tempos modernos”, a máquina que engole Carlito na fábrica é uma demonstração de que a tecnologia pode, realmente, devorar o homem e esse processo ocorre devido todas essas problemáticas engajadas ao moderno.

Por: Arthur Rocha.

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