sábado, 22 de agosto de 2009

Valsa com Bashir: A dualidade de uma ficção real.

Resultado das tensões e conflitos entre árabes e israelenses pelo território da Palestina, a Guerra do Líbano (1982) é retratada em “Valsa com Bashir” através da grandiosidade do diretor Ari Folman com suas animações em 3D, vetorial (ou em flash) e a convencional, mas não menos importante, animação feita à mão.

O filme, lançado em 13 de Maio de 2008 durante o Festival de Cannes, foi escrito, dirigido e protagonizado pelo israelense Ari Folman que, através de um documentário animado – tido por muitos críticos como um dos precursores de um novo gênero cinematográfico: o documentário em animação – o veterano da Guerra do Líbano, tenta recuperar suas memórias perdidas da época na qual participou do conflito no Oriente, mais especificamente dos massacres de Sabra e Shatila, campos de refugiados palestinos localizados a oeste de Beirute.
“Valsa com Bashir” – vencedor do globo de Ouro de melhor filme estrangeiro, entre outros 15 prêmios ao redor do mundo – traz Folman buscando e ouvindo o relato de demais pessoas que participaram ao lado dele na guerra durante a década de 80, sendo esta a única forma dele ter certeza do que se passou durante o conflito no Líbano, uma vez que a única lembrança guardada em sua mente era uma situação estérea em que, envolto de água do mar, ele observava uma cidade destruída sob a luz de sinalizadores noturnos.

Como explicou Ori Sivan – terapeuta amigo de Folman – a memória é fluída, portanto, ela é passível de mudanças, podendo ser recriada a cada momento, ainda mais quando se trata de uma lembrança distorcida como a de Ari Folman. Do mesmo modo é apresentada a película: ela trata da realidade, mas se utilizando do recurso da animação, recriando a realidade sob uma ótica que desperta um interesse maior no espectador, como intencionalmente o próprio diretor afirmou: a animação foi uma escolha natural, a que melhor auxiliaria no processo de revirar o passado, e ajudaria a atrair para o filme um público jovem que sabe pouco sobre essa guerra, tanto em Israel como no resto do mundo. Além do que, fugiria do formato tradicional de documentário baseado em entrevistas, explorando o lado ficção que a realidade pode ter.

A valsa é uma metáfora do momento no qual um dos soldados passou atirando com sua metralhadora, como se estivesse valsando com a sua arma por um curto período, mas que pareceu para ele uma eternidade. Já Bashir, refere-se a Bashir Gemayel, presidente libanês assassinado numa explosão nunca explicada.

Folman expande os limites do documentário ao inserir imagens reais de arquivo em que mulheres confinadas ao extermínio gritam em desespero, bem como imagens de corpos vítimas do massacre. Tais imagens – cenas realmente chocantes - são exibidas estrategicamente no fim do filme para nos lembrar que, apesar da dualidade ficção cinematográfica X documentário real, a Guerra do Líbano de fato existiu e as raízes de suas conseqüências atingem os dias de hoje.

Em suma, “Valsa com Bashir” utiliza recursos jornalísticos para produzir um documentário a partir de diversas entrevistas e arquivos com pessoas que fazem parte da vida real e, com isso, transportar tudo para o universo da animação, mesclando a realidade ao fictício, porém sem perder o tom sério e informativo. É ai onde ficção e realidade se encontram, não por acaso “Valsa com Bashir” é uma espécie de graphic novels, uma forma moderna e artística de jornalismo que desenvolve a tendência de levar as animações para os adultos.

Assista agora ao trailler do filme e disperte ainda mais seu interesse:



Por: Arthur Rocha.

3 comentários:

  1. É, DE FATO O FILME É EXCELENTE E MERECEU TODOS OS PRÊMIOS QUE GANHOU!

    Também recomendo ! ;)
    hehe
    vlw o/

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  2. Valsa com Bashir é um "lúdico-cru-documentário-animado", excelente!Um dos melhores filmes que vi esse ano, a sequencia final é de uma verdade e impacto que nos deixam atônitos e pensativos!
    Além de uma excelente trilha sonora =)

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  3. Realmente é um excelente filme, mas que precisa de um prévio conhecimento histórico acerca da Guerra do Líbano. Porque, sinceramente, como não tinha esse conhecimento antes de ter assistido fiquei um pouco que perdida. =/

    E concordo, excelente trilha sonora e é um filme bem inovador! (:

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