sábado, 9 de outubro de 2010

A nota

Ventava muito, o jornalista acordou para fechar a janela do quarto e barrar todo aquele frio. Alguns goles de café forte e sem açúcar antes de sair de casa. Ele nunca deixava de tomar o tal café, era a única coisa que, segundo ele, o mantinha aceso na redação o dia todo.
Na cozinha, passava os olhos ao acaso quando pousou a vista sobre o calendário de parede. Era primeiro de novembro e o único pensamento que lhe veio a mente naquele instante foi de como escrever um texto diferente, talvez inovador para o dia de Finados. Todos os anos, seu chefe de redação sempre lhe confiava o espaço do jornal destinado a essa efemeride. Mas o que poderia fazer?

Deu bom dia à secretária, à moça do café, a seu Antônio entregador de encomendas, mas todos pareciam tão ocupados que não o responderam. Dirigiu-se à terceira sala do corredor e achou estranho a porta estar aberta, pelo menos não precisou nem tirar a chave do bolso.

Mais uma coisa chamou a sua atenção: onde estariam as coisas de sua mesa? Suas pastas? Seus arquivos? Talvez Dalva os tivesse tirado para fazer a limpeza da sala. Não importa, faria seu trabalho assim mesmo.

As horas se passavam, os dedos cansavam, mas com afeição ao seu trabalho, o jornalista, por fim, terminou. Deixou o texto na mesa do editor do jornal para ser revisado e publicado na edição de amanhã.

Achou estranho ninguém o ter procurado em sua sala durante todo  o turno, o que normalmente nunca acontecia, no entanto, deixou sua sala, cruzou o corredor e saiu de fininho - não queria que Geraldo reparasse que ele já estava de saída, afinal, não seria a primeira nem a sétima vez que seu colega de trabalho se aproveitaria, segundo ele, de sua boa vontade, ainda por cima, seu Geraldo Pulmão Podre tinha o péssimo hábito de fumar dentro do carro e  nem para jogar as piubas no lixo, sempre ficavam no assoalho do veículo.

Ventava muito, o jornalista mais uma vez acordou para fechar a janela do quarto e barrar todo aquele frio. Mais alguns goles de café forte e sem açúcar. Como era dia de Finados não foi à redação e sentou no sofá cinza da casa sem muito requinte onde morava sozinho. Pegou o jornal do dia para ver as notícias, e mais, para ver o texto feito por ele no dia anterior.

Que estranho. Passava as páginas, mas nem sinal do texto. Folheou de trás para frente, de frente para trás e nem sinal. Abriu numa página aleatória. Viu uma pequena nota com sua foto. Resolveu ler. O jornal da Manhã havia publicado uma homenagem ao grande jornalista que muito contribuiu para a empresa e já não estava mais entre nós.

Por: Arthur Rocha.

4 comentários:

  1. Blog muito bom em conteúdo. Diversificado e indiciador do grande jornalista que você será. Sugiro que refaça esse design, optando por uma cor mais clara. Esse formato gráfico dá um aspecto quase gótico. A não ser que seja essa a intenção.

    Abraço,
    Emanoel Barreto

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  2. *----* gostei pakas, õ/
    seguindo, abraço.

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  3. Não preciso nem escreve muito, pois sempre considerei o trabalho de Arthur Rocha magnifico em meio ao vazio da internet, esse blog apenas confirmam minhas afirmações.

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